Por Luciana Sendyk
A minissérie Ciranda Cirandinha, produzida pela TV Globo em 1978, está atualmente disponível no YouTube em uma cópia de visibilidade razoável – combinando com os tempos obscuros da ditadura que retrata. Apesar de ter sido produzida no final da década de 1970, quando o mundo já estava imerso no punk, o tema central é a juventude hippie e as suas angústias que, hoje, parecem pueris. O grande drama da vida dos personagens é sair da casa do pais. Diferentemente de hoje, quando o grande drama dos jovens é perceber que a geração dos pais “destruiu” a própria casa, ou seja: o mundo.
O quarteto de atores principais inclui Lucélia Santos, Fábio Júnior, Denise Bandeira e o recém falecido Jorge Fernando.
O seriado, uma sensação entre os jovens que queriam se ver – e ver algo “novo” na TV -, durou apenas 7 episódios (todos exibidos em 1978). O ator Eduardo Tornaghi – que participa ativamente do primeiro episódio – vive um tipo messiânico que nunca voltou de uma viagem de ácido. A censura não curtiu a ideia e a viagem virou uma mega talagada de um goró barato, um porre estratosférico de 51.
Tornaghi, o ser humano e não o personagem, contou em entrevistasque, em um momento dos anos 80, percebeu que vivia em uma “gaiola de ouro” e resolveu conhecer o Brasil real e o “mundo subterrâneo da cultura”. Com um estilo hippie de olhar o mundo, ele passou a dedicar os seus dias a dar aulas de teatro em presídios,acampamentos de sem-terra e a conversar sobre a importância da literatura em escolas. Ele pode ser encontrado às quartas-feiras em um quiosque na praia do Leme, zona sul do Rio de Janeiro,onde realiza a sua Pelada Poética bem em frente ao apartamento onde mora.
O mote dos personagens de Ciranda Cirandinha continua atual, hoje e sempre. Tanto que quase uma década depois o Ira! cantava: “Se sou eu ainda jovem /Passando por cima de tudo/ Se hoje canto essa canção/ O que cantarei depois?…”
Ah, esses jovens… Sempre passando por cima de tudo na ânsia de se tornarem adultos logo, sem saber que a juventude é um ‘drama’ que passa depressa… Mais sábio seria preservar o ´olhar o mundo´ infantil e, ainda mais inteligente, preservar o próprio mundo.
Ao invés de pensar em “apenas” sair da casa dos pais, todos nós deveríamos aprender a conviver neste planeta azul que de fato é o nosso lar. Soa hippie demais? Seria um conceito ultrapassado dos anos 1970? Velho ou não, inocente ou não, que tal cuidarmos juntos de nossa floresta-quintal, brincando todos de Ciranda, Cirandinha, conscientes de que ninguém deve soltar a mão de ninguém?