ECOS HUMANOS – Edgar “Ciberpajé” Franco (roteiro) e Eder Santos (arte) – 72 páginas – Preto e Branco – Editora Reverso (2018).
Arte é questionamento, reflexão, mais do que apenas uma mera representação do bem e do mal como forças estanques. Eco é uma reflexão do som. Um som que persiste mesmo após a sua emissão ter sido extinta. E o que é humano? Ser “racional”? Ecos Humanos versa sobre o Pathos, a patologia de padecer para aprender.
Edgar Franco imagina, Eder Santos molda a argila. Um trabalho lúdico como um beijo no rosto e direto como um corte na jugular.
Em Ecos Humanos não há diálogos. São imagens sequenciais de feras antropomórficas que buscam saciar a fome e preservar as suas vidas entre cercas, como quase todos nós que facilmente nos enganamos com a palavra segurança. Muros que permanecem em pé até que a morte ou a mudança cortem-nos as bases. Um “Paradoxo de Popper”antropomórfico que te impulsiona a agir após as possibilidades terem sido teoricamente esgotadas. Os excessos de liberdade que antecedem a autofagia. A mensagem transmitida pelo não-texto permite (re)contar a saga humana através de imagens em preto e branco que apenas nos pedem a agudeza do olhar e a perspicácia do sentir. Não é pedir muito, não é? Os signos espalhados pelas páginas espelham nossos rostos incrédulos perante tanta beleza e crueldade. Sequências de reflexões, negras como a boca da noite para então retornarmos ao campo vazio da esperança. A obra se descortina como se estivéssemos perante uma enorme tela na qual surge o universo que se apequena em direção a um conhecido planeta – e em especial a um país de “raposas” e aves de rapina.
Edgar Franco não é simplesmente “humano”, é um xamã. Sendo assim, a obra é extensão de sua persona, exatamente como um eco. Por isso, boa parte da obra de Franco se relaciona ao xamanismo, a comunhão entre os mundos. Os quadrinhos também são transe espiritual, o que nos permite eliminar a ilusão do mundo “real”, para então entrarmos na “realidade” do nosso inconsciente, individual e coletivo, não apenas em busca de respostas, mas na comunhão profunda do nosso ser. É assim que também imagino e almejo a arte: libertadora. Creiam que não há super heróis que possam nos salvar de nós mesmos.
Após escrever a resenha, auscultei a obra mais uma vez -, e certifiquei-me do escrito. Creio que não poderia ser diferente já que os sobrenomes dos autores de Ecos Humanos, Edgar Franco e Eder Santos, somam-se na convocação “Santo Franco”!