A nova Tupinambah contém uma única história chamada Estado de Exceção. Um jovem casal é acusado pelo governo militar, que toma o poder, de executar um atentado à bomba com o objetivo de matar milhares em um show no dia do trabalho. Acuado, e expostos pela grande imprensa, o casal luta para sobreviver em uma via-crúcis que os faz conhecer tanto as entidades brasileiras como um grupo de resistência revolucionária.
TUPINAMBAH 2
A revista estava sendo desenvolvida desde o final de 2018, mas uma campanha de financiamento vitoriosa em agosto de 2020, permitiu que a nova edição fosse publicada em abril de 2021.
Além da história Estado de Exceção, a nova Tupi conta com uma entrevista com o anarquista Marcolino Jeremias e uma matéria sobre Apolônio de Carvalho e Sérgio de Carvalho, dois militares que combateram os excessos de regimes totalitários brasileiros.
Cartas sempre fizeram parte da história
política do Brasil.
Na República Velha, a carta que
nunca foi escrita pelo candidato à presidência Artur Bernardes contra os
militares e no Estado Novo, o Plano Cohen: a carta de “comunistas”
que deporiam o governo Vargas, escrita pelo integralista e capitão Olímpio
Mourão Filho, o mesmo do golpe de 1964!
Carta falsa atribuída ao candidato Artur Bernardes – que deflagrou uma crise militar
A introdução se faz necessária porque preciso confessar que conheço o autor da carta promovida dia 17 de maio de 2019, por aquele que se diz Presidente.
No início da década de 2000, ensaiávamos em um estúdio em Copacabana, Rio de Janeiro ao lado de uma das mais significativas ruas da cidade, Prado Júnior, com “gente de bem” entre prostitutas, michês e viciados. O estúdio se localizava em um prédio pequeno com elevador claudicante, academia de artes marciais, igreja evangélica, costureiras e apartamentos para a prostituição.
O gerente da casa de prostituição,
porta a porta com o estúdio, gostava da nossa banda Mustang e assistia aos
nossos ensaios. Certa vez, de manhã, enquanto ensaiávamos, o gerente ficou
esfregando um pênis de borracha na janela acústica do estúdio. O baterista,
rindo sem parar, me chamou a atenção e eu fiquei de cara. Essa é a boa
recordação daqueles tempos.
A má lembrança é que o irmão do dono
do estúdio é o autor da carta divulgada por aquele que se diz Presidente em 17
de maio de 2019.
Escrita por um guitarrista de rock,
o que me fez refletir, mais uma vez, sobre dissociação cognitiva e
incompreensão da realidade. Naquela época, há 15 anos, ou mais, eu nunca
desconfiaria que um músico de rock pudesse ser fascista, reaça ou de direita!
Que ingênuo eu era… Uma carta que reflete e me relembra do pior do bairro de
Copacabana, e o pior do Brasil. E o pior das pessoas.
Admiro a liberdade de Copacabana, para uns libertinagem, e nesse bairro, esbarrei com pessoas maravilhosas como Elke Maravilha, Leonel Brizola, Clóvis Bornay e Jane Di Castro.
Elke Maravilha (IMS)
Mas também presenciei muita coisa estranha na Princesinha do Mar… Recentemente, vi um arrastão testemunhado por policiais que nada fizeram (“não é problema nosso”) e li na imprensa sobre um lutador de academia que atirou em um morador de rua; sobre idosos que atearam fogo em outro mendigo; sobre idosas vendendo drogas em casa e uma tabacaria de rua que negociava drogas pra geral… Um espelho do Brasil.
A carta, e o que se diz Presidente,
passarão. São lixo da história. Copacabana continuará entre plumas, paetês e
balas perdidas – e encontradas.
“A revista Tupi Nambah, com textos, desenhos, imagens, quadrinhos e roteiros de autoria de Carlos Lopes, é um sopro de criatividade e resistência em um momento grave da vida político-econômico-social deste Brasil infeliz dominado pelas trevas, pelo retrocesso e pela irrelevância em todos os sentidos. A crítica política e social é ácida e contundente, com forte viés de protesto e de esquerda, passando por uma verdadeira aula de história e de sociologia enfocando a vida brasileira a partir da Segunda Guerra Mundial. A obra cometida por Lopes é de uma importância crucial para entender o momento em que vivemos, sem retoques ou eufemismos.”