A nova Tupinambah contém uma única história chamada Estado de Exceção. Um jovem casal é acusado pelo governo militar, que toma o poder, de executar um atentado à bomba com o objetivo de matar milhares em um show no dia do trabalho. Acuado, e expostos pela grande imprensa, o casal luta para sobreviver em uma via-crúcis que os faz conhecer tanto as entidades brasileiras como um grupo de resistência revolucionária.
TUPINAMBAH 2
A revista estava sendo desenvolvida desde o final de 2018, mas uma campanha de financiamento vitoriosa em agosto de 2020, permitiu que a nova edição fosse publicada em abril de 2021.
Além da história Estado de Exceção, a nova Tupi conta com uma entrevista com o anarquista Marcolino Jeremias e uma matéria sobre Apolônio de Carvalho e Sérgio de Carvalho, dois militares que combateram os excessos de regimes totalitários brasileiros.
O retorno não tem sido fácil. É como reaprender a andar…
de bicicleta. O pé escorrega. Ninguém
nas ruas e os ônibus lotados. E do meu quadrado vejo alguém tossir na cara de
outro e o pau comer. Falso recomeço, preocupante calmaria. Nem papeis de balas
encontro pelo caminho.
Encontro alguém na rua que acredito ter conhecido antes da
pandemia, mas não lembro quem é… Vizinha, jornaleiro, atendente… Ergo o
braço robótico e aceno miseravelmente para manter as aparências do mundo que se
foi. As máscaras literalmente caíram e não faço a mínima questão de
revesti-las. Não me importo. Somos sobreviventes. O jogo é duro…
Arranco a máscara lavada e relavada e jogo bem longe.
Respiro fundo. O vento me sacaneia e a traz de volta. Dou-lhe as costas. Que
fique onde está.
O vírus veio para mudar o que já devia ter sido mudado há
tempos. Mas o STF e Deus nada fizeram. Deixaram-nos à míngua entre frases
feitas e malcriações. Desumanidades de 600 reais que seriam 200…
Volto rapidamente ao apartamento onde me sinto melhor, mesmo
após mais de 3 meses trancado. Ainda guardo os gritos de desespero para mim.
A jovem fumadora de tabaco já não me acena da janela em
frente. Agora que tudo parece ter voltado ao normal, ela deve ter preferido
normalizar as relações e ocultar suas indiscrições.
Do mesmo quinto andar, ouço o vendedor de pamonha que como
relógio suíço passa há anos na porta do prédio às 17:45.
Fabrício Grellet é um correspondente de longa data. Roteirista-fundador da Magic Eye Studios em São José dos Campos, SP, e batalhador constante dos quadrinhos nacionais, Grellet se aliou à agência ArteOfício; ao psicanalista Leandro Mascarenhas e à pedagoga Elizabeth Vianna, para criarem uma série de 12 revistas coloridas em quadrinhos chamada “Jacques DeMolay, O Mártir Templário”, o último Grão-Mestre da Ordem dos Templários (1244 – 1314).
Mas quem foram os Templários e o que foram as Cruzadas?
Cruzadas foram movimentos militares ocorridos entre os séculos XI e XIII – com os Templários, uma ordem de cavalaria religiosa – objetivando reconquistar a Terra Santa, Jerusalém (o que fizeram em 1099), e proteger os peregrinos ocidentais que quisessem visitar a cidade sem o perigo de serem furtados. E é neste ponto que abrimos mão das questões religiosas ou atos de heroísmo para nos ater à comparações com o momento atual. Os templários seriam uma espécie de milícia religiosa que estava em uma guerra santa contra os “invasores” muçulmanos, considerados inimigos do ocidente e de Cristo. Inclusive, há uma boa parcela daqueles que ainda hoje acreditam que alguma dia este confronto entre ocidente e oriente voltará a ocorrer. E pelos mesmos motivos…
Conteúdo
Mas como eram bancadas essas viagens? Só
para citar o exemplo mais notório, os astutos comerciantes venezianos e
genoveses objetivavam controlar as rotas comerciais entre Ocidente e Oriente.
Assim foi fundado o capitalismo, tal como conhecemos hoje.
A capela Temple Church em Londres, construída em 1185, foi um banco
templário. O primeiro banco de Londres. Os peregrinos deixavam lá o seu
dinheiro que recuperavam após retornarem de Jerusalém. Esse era o negócio…
Aliado a uma rede poderosa de toma-lá-dá-cá que incluía o papa, e os reis de
quase toda a Europa.
Mas houve
outro importante personagem: Saladino,
o líder curdo muçulmano que obteve a sua primeira grande vitória contra os
Cruzados em 1179. Não sem vários reveses e decisões polêmicas como decepar seus
prisioneiros e tornar vários deles escravos. E oito anos após essa conquista, o
líder muçulmano conquistou a maior parte de Jerusalém, mas não sem algumas
reviravoltas, e inclusive com acordos cavalheirescos com Ricardo I de
Inglaterra.
Jerusalém foi
perdida para os muçulmanos em 1244. Anos
depois, um nobre francês chamado Jacques
DeMolay (1244 – 1314) entra na Ordem dos Cavaleiros Templários em 1261 com
21 anos, até tornar-se Grão-Mestre em
1298. E tendo tropas a comandar, DeMoley escolhe a ilha de Chipre, ainda um
local cristão, para prosseguir com as investidas militares, mas não obtendo
sucessos ou conquistas, e tendo perdido Chipre em 1303, a realeza e o papado
voltaram-se contra eles. Os cristãos haviam sido expulsos do oriente. E alguém
teria que pagar a conta…
E como versa
a História, o fim da Ordem em 1312 ocorreu por causa de reis devedores que
fizeram de tudo para não saldarem suas dívidas. O rei Felipe 4º da França (O Belo) era um dos que deviam e que se
preocupava com o poder econômico e militar da Ordem. Mesmo sendo amigo de Jacques
DeMolay, o rei não o perdoou, comandando ele mesmo um ataque aos Templários em
1307, o primeiro deles, para que os religiosos confessassem heresias – sob tortura.
Traído, DeMolay permaneceu preso durante sete anos até quase ser libertado, mas
não sem antes uma última interferência do rei Belo. Como havia uma
possibilidade de Moley ser absolvido pelo papa, Felipe 4º antecipou-se ordenando o sequestro de Jacques DeMolay e
de Godofredo de Charnay para que fossem queimados no centro de Paris, em uma
ilha no rio Sena.
“Todos vocês serão amaldiçoados até a 13ª geração” teria dito DeMolay entre as chamas.
Equipe dos quadrinhos: Fabrício Grellet (roteiro), Silvio Spot e Arthur Garcia (arte), Carolina Pontes (cores), Thiago Camargo (letras), Maxwell Ferreira (diretor de criação) e Fabiano Chedid (editor).