Campanha para A revista TUPINAMBAH 2, CD e LP.

Campanha de 15 de junho a 15 de agosto para CD LP Pandemia da Dorsal Atlântica e Revista Tupinambah 2.

(de 15 de junho a 15 de agosto de 2020)

www.catarse.me/dorsalpandemia

Iniciamos em 15 de junho de 2020 a campanha para a gravação e prensagem do novo trabalho da banda Dorsal Atlântica chamado Pandemia. Além dos CDs, camisetas e LPs, a segunda edição da revista Tupinambah está na campanha juntamente com o CD/LP.

A Tupinambah 2 contém uma história única chamada Estado de Exceção, que se conecta à Pandemia na análise da conjuntura nacional através de distopias inspiradas em Revolução dos Bichos e 1984 do escritor George Orwell.

Em Brazilândia, uma sociedade dividida entre os reis equinos, o povo canino e os símios militares, um jumento é eleito como Primeiro Ministro através de um golpe. O eleito infecta a população com o vírus da ignorância e seus fanáticos seguidores destroem terreiros de Candomblé e incendeiam laboratórios, faculdades e livrarias em nome do Deus Sumé.

Link da campanha: www.catarse.me/dorsalpandemia

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=-K3PFuM_6IY

QUARENTENA DE DESENHOS (de GAEL para papai)

O isolamento social não tem sido fácil para ninguém. Embora que para muitos, a vida parece seguir “quase” normal. Os ônibus, farmácias e os supermercados funcionam. Mas recebo relatos de funcionários sem máscara e rindo de toda a situação. Negação e paranóia. Existencialismo e fanatismo. Sem água, trabalho, e nas favelas a vida segue, como dá, como pode. Parentes de conhecidos meus faleceram de covid-19. Enterrados às pressas sem despedidas e amigos. E isso não é teoria conspiratória.

Muitas vezes, a ignorância é quase uma benção, e também um grande problema. Ignorância no sentido de ignorar, de fazer pouco caso, inclusive da ciência. E como quase tudo na vida, relações sociais interferem em questões profissionais. “Propaganda é a alma do negócio”. Ouvia muito essa frase, mas com o tempo me tornei crítico em relação a esse pensamento que apesar de tão simples, – e óbvio -, também se refere a oportunismo, e a comprar pessoas.

Durante a pandemia, pessoas têm se separado, inclusive casais. Idosos são agredidos, pessoas se desesperam pela falta de dinheiro e pelo confinamento. E também deixam que preconceitos se fortaleçam, como a idosa que agrediu verbalmente uma jovem oriental em um vagão de metrô carioca por “infectar a todos com coronavírus”!

As obras no prédio onde resido não pararam. Serra, poeira e cimento todos os dias em horário comercial. Ruídos que nos lembram que a vida não para. O que me faz refletir, todo o tempo, que para comer e ter energia elétrica para escrever essas reflexões  é preciso haver gente, seres humanos trabalhando. E se expondo ao contágio. É como cair no fogo ou na frigideira.

O mundo enlouqueceu ou saiu do armário? Está mais normal do que nunca, mesmo em sua anormalidade?

Enquanto “celebro” e repenso sobre a vida nesses dois meses de isolamento, desenho todos os dias para o meu filho Gael que só me pede artes relacionadas ao jogo FNAF (Five Nights at Freddy´s). Tive que colocar minhas críticas a jogos de lado… Desenhar para o pequeno Gael de 7 aninhos é tão necessário quanto acordar, respirar e comer. Não me imagino de outra forma. E nem conseguiria… Não tenho todo o dinheiro que precisaria para dar bens materiais ao meu filho, mas tenho uma missão que é dar e receber amor. E nunca, ódio.

O amor não pode parar. É a nossa mola propulsora e moto-contínuo, semente e esperança, vida em movimento. Precisamos amar e sobreviver, pagar contas, cuidar da saúde, mente e espírito, mas também precisamos acreditar no amor, sem sermos ingênuos. Somos humanos e tudo o que é humano é demasiado…  Ou inalcançável. Mas isso não pode nos impedir. Talvez todo esse período sirva para nos desapegarmos de ilusões, para deixarmos a vida – que nos resta – mais fácil. Certamente, para muitos, a vida nunca mais será a mesma. Ou mais do mesmo.

Desenhos trocados entre filho e pai durante o isolamento em 2020
Desenhos trocados entre filho e pau durante isolamento social em 2020.

A morte do baterista Neil Peart, o porQUÊ do rock, e sua (DES)influência.

Anos 1970

A morte de Neil Peart, o baterista da banda Rush, foi comunicada pela imprensa no dia 10 de janeiro. Não foi “apenas” a morte de um grande músico, mas praticamente o fim de uma época – segundo certos parâmetros, é claro. Explicando: já vaticinou-se a morte do rock progressivo há décadas, o que não é uma inverdade. Pois parece que o estilo não faz mais sentido – isso é, se ele não “progredir” de alguma forma e encontrar novos objetivos. Creiam que o próprio nome do estilo é o seu epitáfio: progressivo… Ou seja, nada está mais distante do rock progressivo do que o progresso, já que seus fãs ainda idolatram as decantadas fórmulas da década de 1970, e não progridem, fossilizam-se em um passado glorioso. Ressuscitar um estilo musical ou copiar a estética de um filme, por exemplo, não significa que ele ainda é relevante. E aí, volta-se à pergunta: ter moicano em 2020 significaria que o punk rock e o hardcore não morreram? Há duas coisas distintas e que se contradizem: a discussão ideológica-estética e a perenidade e a necessidade de estilos de épocas longínquas ainda existirem, sem terem à sua volta, e como fermento, o velho mundo no qual nasceram…

Rush ri…

Mas voltando à vaca fria, não é preciso destacar a importância de Neil Peart para o mundo da música e nem a sua contribuição para os temas de ficção-científica da banda. O que posso fazer neste momento, é contribuir com memórias e a relação com a minha vida pré e pós-bandas. E o Rush povoou o meu imaginário entre a segunda metade dos anos 1970 até 1980.

Análise sobre o por que do rock progressivo e comentários pessoais sobre a morte do baterista Neil Peart do Rush
Neil Peart ao vivo na década de 1970 entre tons e bigodes.

Poucos músicos de rock visitaram o Brasil nos anos 1970. Dá para contar nos dedos. Mas houve um maná para um adolescente como eu chamado punk rock – que já se ouvia falar em 1976. Rock ou era um negócio de hippie, de músicos considerados “velhos” ou pesado ou “progressivo”… No colégio nessa época, escutava-se Zep, Purple – e menos o Sabbath, mas eu não gostava tanto. Era a época que dizia-se que o AC/DC – ainda desconhecido no país – era uma banda de punk rock e que o Queen era uma banda “curiosa” – que não iria muito longe (“outra cópia do Zep”)… Acreditem.

E não há como descrever o impacto de bandas como New York Dolls, Television, The Clash, Sex Pistols, The Jam, Patti Smith naquela época. O rock estava mofado e eles desmofaram. Atitude, som, timbres, roupas, cabelos, letras completamente diferentes. Mesmo assim eu ainda escutava Rush e adorava. Lembro bem da exibição do clipe de A Farewell To Kings no programa Rock Concert da Globo com sua introdução de violão no estilo Bach. Eu nem tinha vídeo-cassete para registrar… O Rush era, como todo rock pesado, um pouco petulante e brega, mas também era instigante. Se o punk rock instigava, o Rush também podia fazer isso de outra forma (sem entrar em conceitos de toca “bem” ou “mal”… Uma discussão capenga).

Lembro bem da resenha do disco Fly By Night (1975) na revista brasileira Pop que dizia em letras bem impressas que ninguém deveria levar o tal do Rush a sério, considerado uma pálida cópia do Led Zeppelin (o mesmo tipo de crítica feita aos Beatles em 1963) e recordo como eu e meus colegas de colégio curtíamos os álbuns Caress of Steel, 2112, All the World´s a Stage, A Farewell to Kings, Hemispheres, Exit… Stage Left e Moving Pictures. E ao mesmo tempo eu ainda amava – e cada vez mais – o punk rock.

Na faculdade de jornalismo por volta de 1983, cabulávamos algumas aulas e em uma sala vazia, um dos veteranos da faculdade, Ivo Ricardo, baixista da banda carioca Água Brava (que imitava o Rush sem pundonor), tocava para uma grupo de 4 alunos, em um Betacam, os vídeos ao vivo do Rush (Exit…Stage Left) e do Thin Lizzy (Live and Dangerous).

Em 1992, já tocando na banda Dorsal Atlântica e me sentindo obrigado pelo público e gravadora a fazer e gravar mais do mesmo, eu comentei com os outros músicos do grupo que  gostaria de compor um disco mais ousado, espiritual, pesado mas “progressivo”. O nome escolhido para o LP foi Musical Guide from the Stellium e faixas como Kali Yuga e Thy Will be Done exibem a influência do Rush e o que eles nos ensinaram: sermos “pesados, mas progressivos”. E aí entra a verdadeira acepção do nome, da alcunha: como artista, nunca me repeti, aboli fórmulas e fui… progressivo. Logo quem!? O filho do punk rock!

Quando o Rush decidiu pela primeira vez tocar no Brasil, em 2002 no Maracanã, eu estava tocando em Goiânia Rock City com a minha banda Mustang. Já tendo absorvido as lições de todos os estilos, de toda uma vida e literalmente (desculpem o termo) “cagando e andando” para o mercado, o lugar-comum e as obviedades da vida.

Em 2010, o Rush retornou ao país e no Rio tocaram na Praça da Apoteose. E aí, entra em cena o meu cansaço pessoal do rock, e das pessoas. Este relato pode soar muito pessoal (e é), mas acredito ser importante mencionar que a vida é uma questão de escolhas. Um bom amigo pagou o meu ingresso, mas ele se perdeu de mim porque havia bebido demais e sumiu por aí, dentro da Apoteose. Mas horas antes de entrar no show, eu estava com um grupo de conhecidos de outro Estado, que vieram ao Rio ver o Rush, mas mesmo sabendo que eu sou “de careta”, um deles tentou esfregar cocaína no meu nariz… Ali foi como a gota d´água  do saco cheio de um monte de coisas. Aguentei o show do Rush até a metade, mas tudo aquilo estava forçado demais, todo mundo doido e eu ouvindo algo que não fazia o mínimo sentido e resolvi ir embora. Ao sair da Apoteose, um grupo de pessoas no alto de um viaduto ao lado, me reconheceu e começou a gritar meu nome e a acenar para mim. Sorri de volta, segui adiante, caminhei até o Circo Voador, na noite abandonada da Lapa, entre abandonados pela vida e fui fazer compras em um super mercado na madrugada enquanto rolava um Rush na Apoteose

O que relatei sobre a última tentativa de assistir à banda em um momento não adequado e de ter visto tanta gente amontoada sem razão de ser, remete-me seriamente à questão do hedonismo na música e na vida como expressão de liberdade individual. Pelo o que relatei, e por convicção, eu não acredito nesse ponto de vista que agrego ao neoliberalismo. Tanto, que sem querer julgar, mas mostrando que Peart acreditava no hedonismo – que a meu ver ele confundia com liberdade -, leiam essa polêmica entrevista de 1978 no link abaixo.

https://www.theguardian.com/music/2015/may/13/rush-nme-interview-1978-rocks-backpages?fbclid=IwAR34KElPKKeA6PFyyKPnXQq2EbjwBVeQCTLLZoJnNBwHVGIz7d_N2qmxT6Y

Cada um no seu quadrado, com ou sem sonhos e fantasias.

Encerro este texto agradecendo a Peart pela inspiração e dizendo que a vida e a morte, para quem acredita, são a mesma coisa. As pessoas nunca morrem, elas se encantam. E nos encantam.